quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Charrette & Baby Sitter



Quem conhece a dinâmica de um escritório de arquitetura sabe que nos dias que antecedem a entrega de um concurso não há qualquer possibilidade de manter uma rotina normal de vida. Você pode ter que trabalhar até mais tarde, até bem mais tarde, ou até cedo, quer dizer, até a manhã do outro dia. Enquanto os cariocas dizem nesses períodos que estão "atolados", aqui em Paris se diz "on est en charrette". Nenhuma das diversas fontes que escutei conseguiu me convencer plenamente da origem dessa expressão, mas todas contaram basicamente a mesma história: que o termo vem da época das verdadeiras charretes, que carregavam os tubos de desenho até os clientes. Charrete estacionada na porta do ateliê era sinônimo de correria. Charrete, carro ou táxi, o fato é que não dá para escapar do "serão" em concurso de arquitetura. E cá estava minha equipe no escritório, com entrega marcada para o dia 9 de outubro, sexta feira passada.

A princípio nenhuma novidade, não fosse o pequeno detalhe que aqui não tem "exquema" com criança: nem empregada ou babá de plantão em casa, nem família para emergências (minha mãe voltou para o Brasil no final de setembro). E não dá para ser a única pessoa a voltar todos os dias pra casa num horário razoável, assobiando, enquanto os colegas estão todos se ferrando até tarde no escritório, incluindo os chefes. Experimentei levar a Lina comigo para o escritório num sábado e deu surpreendentemente certo: trabalhei tranquilamente o dia todo, enquanto ela matou a saudade dos seus queridos DVDs, quietinha com seu fone de ouvido. É bom saber que essa possibilidade existe, mas é apenas um quebra galho, de preferência exepcional e evidentemente impróprio para os dias de semana. A solução, como eu já havia pensado antes, seria mesmo a tal baby sitter brasileira. Mas quem, afinal, ocuparia esta vaga?


Antes de eu vir para cá, o Vico e a Gra, amigos que passaram algumas temporadas em Paris recentemente, sugeriram que eu procurasse uma antiga empregada deles de São Paulo que estava vivendo aqui e seria ótima para este trabalho. Liguei para a moça, Iani, e caí numa das redes de brasileiras que vem para cá ilegalmente tentar a vida, como tantos imigrantes do mundo todo, fazendo trabalhos, digamos assim, pouco especializados, como ménage. Em se tratando de brasileiras ilegais em Paris, não dá para deixar de pensar em sacanagem, mas ménage, em francês, é só faxina.
Iani já tinha um trabalho, mas me indicou sua prima Ilza, que por sua vez tinha uma filha, Thaís, que voltaria para a França em breve e estava justamente procurando um trabalho de baby sitter. Liguei para a moça no Brasil e me pareceu bem simpática, mas tinha um endereço de email não muito apropriado para o cargo: agatona-qdetona@...
Tinha até página no Windows Live, com fotos que não chegavam a ser comprometedoras, mas revelavam o estilo mulata assanhada, tipo de quem não faz falsa propaganda: detona mesmo. Pelo jeito não estava muito preocupada em fugir do esteriótipo da brasileira no exterior. De todo modo, ela não tinha chegado aqui ainda, e sua mãe me indicou também uma amiga, Midiã, que chamei para uma entrevista. Essa era, pelo contrário, a caricatura da evangélica: cabelos compridos presos num rabo de cavalo baixo, saia murcha abaixo do joelho, meia calça de lã e mocassim, tudo em ton-sur-ton de marrons. O figurino não seria um problema, caso ela não parasse de chamar a amiga de irmã Ilza. Bem, tinha imaginado algo menos extremo entre o céu e a terra.

Eu tinha acionado em paralelo uma outra rede, a de estudantes brasileiros, através de um casal de irmãos que estagiavam aqui no escritório, ele como arquiteto, ela na comunicação. Eles me indicaram uma amiga que tinha morado com eles, chamada Paulina, que, nem fogosa nem santa, mas estudante tipo "normal", ganhou a vaga com grande vantagem de pontos em diversas categorias, especialmente naquela bem simples: "parece que vai dar certo".

Paulina mora aqui há dois anos e trabalhou durante esse tempo como baby sitter numa outra casa, mas agora mudou de curso e a nova faculdade ficou muito longe do trabalho, por isso precisou deixá-lo. Ela começou na última semana da charrete, sempre a mais sobrecarregada e, felizmente,
se entendeu logo com a Lina, que adorou a idéia de ter uma babá de Paris. Paulina acabou dormindo em casa por duas noites nas vésperas da entrega e salvou, enfim, minha charrette.

Agora que estamos num período calmo no escritório, Paulina ficará com a Lina nos dias em que eu for sair à noite, e, quando o trabalho voltar a apertar, ela pode buscá-la na escola no final do dia e ficar com ela até eu chegar em casa. Taí nosso exquemá!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Ano da França no Brasil

Recebemos ontem uma simpática mensagem da escolinha da Lina no Rio, o Jardim dos Pirilampos, com fotos dos trabalhos que a turminha dela fez para o Projeto "Ano da França no Brasil":


Exposição no salão



Cores da França e do Brasil



O Jardim de Monet



Paris: a cidade da moda


Foi a oportunidade de a Lina ditar seu primeiro email como resposta:


Querida Vânia, turma dos Pirilampos e Mabel,


Obrigada pelos trabalhinhos! Eu gostei do Monet. Eu gostei também dos trabalhinhos. Eu também gostei do salão. Eu gostei da sala da Ana. Gostei da pintura do Monet outra vez. De novo os trabalhinhos. De novo do Salão.

Vou mandar um carinho para os meus amigos.

A minha escola aqui é de pedra. A minha casa agora é da Madeline.

para os meus amigos,

para a Mabel,

para a Socorro.

Até logo,

Liná.