quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Rotina escolar

Sexta-feira passada teve a primeira reunião da escola da Lina. Começou com os pais de todas as turmas na “cantine” com o tema: Gripe Suína! Pensei que tinha me livrado dessa... A diretora explicou detalhadamente as providências que a escola está tomando para evitar a propagação, tipo instalar displays de sabão e toalheiros de papel nos lavatórios. Como será que era antes? Os dou-dous também tiveram que se adaptar. Primeiro decidiram que, ao invés de ficarem todos se abraçando na tradicional cesta, cada um ficaria num saquinho plástico com o nome da criança. Mas alguns pimpolhos tiveram a brilhante idéia de usar os saquinhos como chapéu e o plano teve que ser abortado. Agora os dou-dous vão direto para as respectivas camas.

A segunda parte da reunião foi na sala de aula com a professora Dominique, “La Maitresse” da “Petite Section I”. A turma da Lina só tem crianças nascidas em 2006, sendo 14 meninas e 12 meninos, num total de 26! Todos por conta da professora, pois a única ajudante não fica na sala o tempo todo. Mas a Dominique não parecia desesperada; com seus 18 anos de casa, estava até prevendo uma turma calma... Bem, não sou eu que vou contestar a superpopulação. Acho até que, considerando que todas as crianças residentes na França (legalizadas ou não) têm direito à escola pública, gratuita e integral a partir de 3 anos, está bom demais. Afinal, é ensino de massa.

Entendi que a prefeitura do município fornece o básico: instalações, funcionários, material de base e tudo o mais relacionado ao ensino, mas se os pais quiserem incrementos, têm que participar ativamente da vida escolar, e para isso há várias possibilidades de colaboração. Uma delas é por meio das associações de pais, com eleições em cada escola e representação no Ministério da Educação. Outra com contribuições voluntárias em dinheiro, usado para renovar o material da sala e promover passeios, espetáculos, comemorações etc. E, por fim, com participação em atividades pedagógicas, como sessões de leitura para as crianças. No chamado “Atelier Bibliothèque”, a turma se divide em três e se reveza em sessões de 1h30 por semana, com dois pais lendo livros para dois grupos de alunos e a professora fazendo atividades com o terceiro, aproveitando a rara oportunidade de ficar com poucos em sala de aula. Achei uma boa forma de se aproximar da escola e conhecer os colegas da turma do seu filho e fiquei morrendo de vontade de perguntar se dava para participar de alguma outra forma, já que não vou me meter a ensinar francês para pequenos franceses. Fiquei com vergonha, mas fui salva por uma mãe italiana e menos encabulada na mesma situação. Podemos, sim, participar: não lendo, mas ajudando com a “disciplina”.

A Dominique também sugeriu que os pais se revezassem para trazer um lanche matinal coletivo, já que a antiga “collation” foi suprimida do sistema público escolar por causa do problema que a França vinha enfrentando com a obesidade infantil. Só que as crianças fazem ginástica todos os dias de manhã e algumas delas não agüentam esperar até o almoço. A medida pode ser vista como um tapa buraco, mas achei simpática a idéia de cada pai ou mãe levar um lanchinho para toda a turma de vez em quando. É claro que teve um “ça se discute” sobre o que pode ou não ser levado. O mesmo papo saúde de sempre: frutas frescas ou secas, pão integral etc.

A coisa mais estranha na escola pública daqui é que não tem aula às quartas-feiras. É isso mesmo, quarta-feira não é dia de aula, pelo menos na cidade de Paris. E agora, pensamos todos? Bem, não sou só eu que trabalho de segunda a sexta nesta cidade. A solução é o “Centre de Loisir”, também mantido pela Prefeitura, que cuida das crianças durante os horários extra curriculares: no almoço, no lanche da tarde, no final do dia, às quartas-feiras e também durante as tantas férias espalhadas pelo ano. Ah bom! Ufa...

Com um animador para cada 8 crianças, o centro promove diversos tipos de atividades: esportivas (piscinas), ateliers: (música, artes plásticas, jardinagem), passeios a parques e museus etc. A Lina foi pela primeira vez hoje e não queria mais voltar para casa no final do dia. As atividades parecem bem interessantes. Os maiorzinhos, por exemplo, foram fazer pic-nic na Floresta de Fontainebleau.


Programação desta quarta-feira
(As atividades dos menores, são indicadas com a letra "P")

É, acho que não é mesmo o caso de reclamar. Só dá, no espírito rapidamente mal acostumada, para lamentar que estas atividades extra não são gratuitas. Custam entre € 0,52 a € 10,47 por dia, com refeição incluída. O preço é definido segundo uma tabela com 8 tarifas, dependendo da renda familiar. Também são cobrados o almoço (entre € 0,13 e € 4,35 por dia) e o lanche da tarde (entre € 0,15 e € 1,55). O ensino propriamente dito é gratuito, mas manter a criança na escola por toda a semana não sai de graça, não. Só se você tiver uma renda muito insignificante. Aqui, embora todos tenham o mesmo, quem pode mais, paga mais.

Mas deixemos as bufadas para os franceses. O saldo todo me pareceu muito bom. E melhor ainda que nossa Pituca está se adaptando bem. Pensei que a Lina ficasse muda na sala, mas a professora disse que ela fala bastante, só que ninguém entende nada... Não vejo a hora de ter logo uma pequena professora particular de francês em domicílio.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

La rentrée

A vida vai entrando numa rotina. Nesta semana começamos a trabalhar no escritório e ontem a Lina estreou na escola, mas ficou só um pouquinho, das 10h às 11h20. Hoje já começou na hora certa, entrou às 8h20 (e não pode atrasar...).

Estávamos nós duas muito ansiosos para "La Rentrée", a volta às aulas, que é um grande evento por aqui. Estou contente que ela está super corajosa para enfrentar a escola nova, a nova língua e tantas outras novidades. Debaixo de chuva, lá foi ela hoje outra vez para a escola toda animada e se despediu de mim de novo sem hesitar. Na école maternelle, os pais levam as crianças até a classe e ficam brincando com eles uns 10 minutos antes de partirem. Alguns caem na choradeira, mas a Lina estava super interessada no mundo de brinquedos e atrações na sala e se despediu de mim numa boa.

"La rentrée" da Lina

A "sala de aula" é bem grande, dividida em vários cantinhos mobilados: "coin cuisine" (fogão, pia, mesa, comidinhas de brinquedo etc), "coin chambre" (cama e trocador de boneca), "coin bibliotèque" (livros), "coin jeux" (brinquedos e instrumentos diversos) e várias mesinhas para desenhar e pintar.

Rodinha da Professora
"Coin Jeux"
"Coin Chambre"
"Coin Cuisine"
"Coin Bibliothèque"

É um verdeiro parquinho de diversões pra ela, que hoje nem queria ir embora na saída antes do almoço, às 11h20. Acho que na semana que vem já dá para deixá-la mais tempo, para almoçar na cantina e fazer a soneca no "dortoir" ao lado da sala, com fileiras de caminhas de campanha bem arrumadinhas com lençol e cobertor.

Dormitório

A saída da tarde pode ser as 16h30 ou, se ela ficar para o "gouter", entre 17h30 e 18h30. Minha mãe está aqui até o final do mês, e fica com ela durante o dia, o que ajuda muito. Mais para frente vou procurar uma baby sitter brasileira para buscá-la e ficar com ela em casa até eu voltar do trabalho, como faz a maioria das famílias parisienses cujos pais trabalham como eu.

O que achei muito curioso aqui é que o "dou-dou" é uma verdadeira instituição: todas as crianças têm o seu. Quando chegam na classe, deixam todos eles juntos numa grande cesta no dormitório, o "panier dou dou".



Uma vez vi uns dudus para vender com um selo "garantia de reposição por X anos". E, para comprovar essa história, passei na frente da loja da marca do dudu que comprei para o Daniel da Ana em outubro de 2007, e lembrei que ela queria um backup. Não tinha um igual em exposição, mas expliquei o caso para a vendedora e ela prontamente abriu uma gaveta com um igualzinho ao dele. Ou seja, eles mantêm mesmo o estoque, para, imagino eu, não deixar as crianças (e suas famílias) desguarnecidas. Afinal, nem sempre da para costurar um igualzinho como o da Lina...

Aliás, hoje à tarde, depois da escola, ela começou a resolver seu problema de comunicação com o próprio Dudu. Inventou uma língua para falar com ele, tipo "bl bli dubdum midu", ao que o fiel companheiro respondia, servilmente, "oui, oui".